A graça barata é vendida por aí como nestas lojas de quinquilharias – não custa muito, mas é de qualidade duvidosaHá cerca de uns dez anos, começaram a surgir aquelas lojas que ofereciam “tudo” ao preço de R$ 1,99. Elas logo viraram uma febre, por oferecer toda sorte de produtos baratos, embora de qualidade duvidosa. Bem antes disso, lá por meados do século passado, um teólogo chamado Bonhoeffer mencionou que muitos abraçam uma graça barata, descompromissada e que não requer nenhuma transformação interna e radical de vida. A versão moderna da graça barata é muito mais sofisticada e cheia de requintes, mas também oferece um evangelho sem a necessidade de transformação radical de vida. É uma graça que prega um Deus bonachão, feito Papai Noel, que concede as benesses do céu agora aqui e agora, neste mundo. É um Deus que está aí para oferecer um projeto de vida boa. Uma visão mercadológica da fé, em que a palavra de ordem é ter uma vida onde os sofrimentos inexistem – bem, quem não experimenta isso é porque está com algum “encosto”. A graça barata é caracterizada por uma religiosidade sem princípios e compromissos éticos. Ela tem uma concepção animista de um mundo dominado por forças ocultas e malignas que vivem em eterno conflito com as forças do bem. É caracterizada por uma teologia da prosperidade e por negociatas com Deus que fariam morrer de vergonha os vendedores de indulgências no passado. A graça barata é orientada às necessidades, em vez do arrependimento, da auto-negação da vida. É um evangelho que foge da cruz como o diabo dela também foge, mas que quer os benefícios da ressurreição de Jesus. Essa graça barata é como aquelas quinquilharias vendidas por aí a R$ 1,99 – não custa muito, mas também não vale nada, pois é uma graça que focaliza apenas o interesse do fiel em querer mais de Deus e dar menos de si a ele. É barata em termos espirituais, mas cara em termos materiais, pois muitas comunidades que a pregam cobram altas taxas de adesão e de intermediação com o sagrado. As publicidades e os depoimentos na TV não falam desse custo, mas se você for lá na hora do “show”, verá que sem pagar, nada feito. Infelizmente, muita gente bem intencionada está caindo neste “conto do pastor”, acreditando que está entregando a sua alma a Jesus, mas na realidade está se escravizando a uma espécie de fidelização – para usar termo da moda – da fé. E muitas igrejas históricas e seus pastores demonstram estar em desespero vendo esses grupos crescerem e seus bancos ficarem vazios, e assim, acabam sendo tentados a baratear o evangelho arreganhando a porta estreita do céu. Quem opta pela graça natural, a divina mesmo, considera o custo do precioso sangue de Jesus que foi derramado e busca atender, na dependência divina, o abandono do pecado. A verdadeira graça de Deus levará a pessoa a uma busca pelos caminhos da retidão, santidade e justiça. Vamos repensar o evangelho que temos pregado – será que é o “outro” evangelho, citado em Gálatas 1.6-9?
Lourenço Stelio Rega é teologo, educador e escritor.
Fonte: http://www.eclesia.com.br/revistadet1.asp?cod_artigos=21
Nenhum comentário:
Postar um comentário