segunda-feira, 4 de maio de 2009

Lidando com alunos problemáticos

Rousas J. Rushdoony


Se partirmos de premissas falsas, sempre falsificaremos e
interpretaremos mal todos os problemas que enfrentamos. Em lugar de
resolver nossos problemas, os agravaremos. As escolas estatais são
cada vez menos competentes em lidar com os problemas do
comportamento delinqüente porque raciocinam a partir de premissas
falsas. Como resultado, não conseguem compreender a natureza do
problema que enfrentam.
No final dos anos 1960, o Comitê sobre a Violência do
Departamento de Psiquiatria da Escola de Medicina da Universidade de
Standford estudou o problema da violência no mundo moderno. Nem
uma só vez em seu simpósio sobre Violência e a Batalha pela Existência
o pecado foi considerado a causa primária da violência. Ao invés disso,
em termos evolutivos, encararam a violência como um aspecto da luta
do homem por adaptar-se e relacionar-se com o meio. Na verdade,
viram como um fator “significativo”, como algo que contribuía para a
violência social, todas aquelas restrições relacionadas ao “castigo da
relação sexual extramarital”. Em outras palavras, os padrões morais
cristãos promoviam a violência!1
Tais opiniões, atribuindo a delinqüência e a violência a fatores
ambientais ou evolutivos, são bastante freqüentes. Um cristão professo,
diretor de uma escola estatal, me disse que toda a delinqüência tinha
sua origem no ambiente e na herança genética. Quando citei numerosos
exemplos que desmentiam sua tese, incluindo o exemplo de uma jovem
nascida em uma família absurdamente depravada e que foi violentada
várias vezes por membros ou amigos da família quando era criança e
ainda adolescente, e de como chegou a se tornar uma mulher e mãe
cristã feliz após sua conversão, ele me disse que era “ilegítimo”
introduzir a teologia nos problemas sociais! Se a palavra e o poder de
Deus não governam todas as áreas da vida, então Ele não é Deus.
O problema primário de toda a delinqüência em qualquer idade
sempre é o pecado. Em qualquer caso de pecado impenitente, a Bíblia
dá à igreja uma responsabilidade bem definida: a excomunhão.

...Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda?
Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois, de
fato, sem fermento. (1Co. 5:6-7)

Paulo está descrevendo aqui a necessidade de expulsar, pela autoridade
de Deus, os delinqüentes, os pecadores. Suas palavras se aplicam a
todas as instituições cristãs, à escola bem como à família. Um costume
do judaísmo ortodoxo, agora menos praticado, que tem profundas
raízes no Antigo Testamento e na família, celebrava um funeral para
qualquer membro apóstata, e, a menos que ele se arrependesse, era
considerado morto para todos os efeitos práticos.
Várias escolas cristãs andam tropegamente por causa de sua
desobediência à Escritura neste ponto. Por não expulsarem o
impenitente, permitem a corrupção de todo o corpo estudantil.
Ademais, é importante que reconheçamos o que significa
arrependimento na Bíblia. A palavra em grego é metanoia; significa uma
mudança de rumo, de vida, de direção, de pensamento e de conduta. O
arrependimento na Bíblia não é uma questão de dizer somente “me
arrependo” ou “lamento”, mas significa uma mudança total de vida, do
pecado e impiedade para a fé e a justiça.2
A instrução em uma escola cristã se efetiva em termos dessa vida
de fé, justiça e serviço a Deus por meio desse conhecimento. Há um
lugar legítimo para os filhos dos incrédulos na escola cristã, porém não
há lugar para uma criança delinqüente, não importa de que lar tenha
vindo. Em alguns casos, a criança pecaminosa provém de um professor
da própria escola. Em todos e em cada um dos casos, a integridade da
escola requer um tratamento firme do problema, e se necessário, a
expulsão.
A desculpa mais comum dada pelos pais é que, de alguma
maneira, a culpa é do professor e que “o professor não compreende
meu filho”. É preciso lidar com estes argumentos de maneira firme.
Primeiro, nenhum professor é perfeito, e portanto impecável ao tratar
com uma criança. Isto está fora de questão. O estudante tem a
responsabilidade de ser obediente e receptivo na sala de aula,
independentemente do professor, e o pai tem a obrigação de exigir isto
de seu filho. Segundo, não é obrigação do professor “compreender” a
criança mas, sim, instruí-la. Só uns poucos professores me
compreenderam, se é que algum o fez, e às vezes isso era doloroso.
Contudo, todos me ensinaram, e fui eu quem saiu ganhando.
Além disso, os pais necessitam ouvir, de forma firme mas amável,
que há uma diferença entre defender seu filho e ajudá-lo. Muitas vezes
se defende melhor uma criança do pecado castigando-a. Ajudamos mais
aos nossos filhos quando lhes dirigimos para verem que devem se
conformar ao padrão de Deus, não ao do mundo ou a padrões pessoais.
A escola, a criança e os pais sofrem quando não se trata com o pecado
de uma criança a partir das Escrituras. Um jovem com um Q.I. elevado,
nascido de pais brilhantes, vive hoje com um soldo muito precário que
exige que sua esposa trabalhe fora. Ele foi expulso da universidade.
Seus pais, devido à proeminência que tinham nos círculos cristãos e à
tola obstinação em defender seu filho, nunca estiveram dispostos a
enfrentar a verdade com respeito a ele, e quase nenhum professor de
nenhuma escola cristã se atreveu a fazê-lo. O que se atreveu a fazê-lo
não recebeu apoio por parte do diretor nem do pastor. O resultado foi
uma vida desperdiçada, dois pais amargurados, e uma quantidade de
anos de sofrimento para alguns professores. Neste caso, o pecado do
filho foi agravado pelos pais, professores, diretor e pelo pastor. Todos
pecaram contra o Senhor, e contra outras crianças, cuja aprendizagem
foi prejudicada por um garoto malcriado. Pecamos quando não
enfrentamos o pecado como pecado. Pecamos quando fazemos vista
grossa para o pecado e o chamamos com nomes como “hiperatividade”.
O pecado de uma criança não deve ser ocasião para o pecado de todo o
corpo da escola.
O Senhor não abençoa nossos pecados, mas nossa fidelidade. Foi
o pecado de Adão o que conduziu à queda e ao sofrimento do homem.
O pecado ainda é nosso inimigo primário. Uma escola cristã não deve
ser delinqüente ao tratar com o problema do pecado.
As razões mais comuns para justificar o fracasso de não tratar
com o pecado dos estudantes são, primeira, o medo de perdas
financeiras. A perda financeira pode ser real, porém a questão tem a ver
com prioridades. O que é mais importante: o rendimento financeiro, ou
a benção do Senhor e o bem-estar da escola? Ademais, a escola que
tolera o pecado sofrerá financeiramente no longo prazo.
Segundo, o medo dos pais, geralmente por serem pessoas de
renome na comunidade. Se formos governados por tal temor, então
seremos governados por tais pessoas na escola. Perderemos o direito à
autoridade na escola ante as crianças malcriadas e os pais a quem elas
controlam.
Terceiro, há o fato da covardia moral. Tratar com problemas
difíceis geralmente é doloroso, porém as conseqüências da covardia
moral são muito mais dolorosas.
O pecado é o problema básico do homem. Não podemos evitar
tratar com ele em nós mesmos, ou em qualquer área da vida. A escola
cristã deve sempre estar preparada para confrontá-lo.



Tradução: Márcio Santana SobrinhoFonte: The Philosophy of the Christian Curriculum, p. 124-127