Os casamentos duram cada vez mais menos, mas para os especialistas é sempre possível salvar a vida a dois
Vladimir Maluf, especial para o iG Delas 20/11/2009 08:56
Corrigir a expectativa de felicidade depositada sobre o outro é um dos passos para salvar seu casamento
Segundo dados do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em 2009 a taxa de divórcios no Brasil se mostra cinco vezes maior do que em 1980. A instituição aponta a TV como um dos responsáveis por este crescimento espantoso, citando que os casais em telenovelas, quando passam por uma crise, optam pelo divórcio como solução. Mas será que se divorciar é mais fácil que salvar o casamento?
O autor do livro “Castelo de cartas” (Editora Mundo Cristão) defende a possibilidade de salvar um casamento, mesmo em situações extremas – até mesmo quando incluem violência doméstica. Gary Chapman, que é terapeuta e conselheiro matrimonial, identifica em seu livro as 10 questões que levam os casamentos ao fim: irresponsabilidade; excesso de trabalho; parceiros controladores; falta de comunicação; abuso verbal, físico e sexual; infidelidade; alcoolismo e drogas; depressão.
Promessa de felicidadeO psicanalista Ernesto Duvidovich, do Centro de Estudos Psicanalíticos, que oferece atendimento a preços populares a quem não pode pagar, afirma que são muitos os motivos que levam os relacionamentos ao fim. Mas vê um principal: a promessa de felicidade. “Fazemos um contrato sem saber que um deve ao outro a felicidade. Você tem o encargo de fazer o outro feliz e vice-versa. Isso tende a frustrar as pessoas”.
Além do número de divórcios ter aumentado, Ernesto acredita que eles vão continuar a crescer. “Está ruim e vai piorar, pois o momento que a sociedade vive incentiva cada vez mais a individualidade e a cultura do narcisismo. As pessoas têm dificuldade de fazer renúncias. Negociam muito pouco. ‘Ou é do meu jeito ou é nada’”, exemplifica.
Não espere tudo do outroA independência da mulher também gerou conflitos, com a capacidade dela viver com mais autonomia, diz Ernesto. E isso mudou o modelo de casamento. “Para conseguir manter um casamento é preciso respeitar o outro. Admitir a autonomia. É preciso que cada um tenha seus próprios projetos, aceitar diferenças, fazer renuncias e negociar. E, fundamentalmente, não esperar tudo do outro”, diz ele.
A psicanalista Elizandra Souza diz que, com a mudança do pensamento e do comportamento feminino, o homem se sentiu perdido, pois não estava acostumado e nem esperava tanta mudança. E ela concorda que a forma de se relacionar está individualizada. “As pessoas se preocupam muito mais com si mesmas e com suas realizações do que com a construção de uma relação amorosa e familiar”.
Para ela, muitas vezes, os relacionamentos são constituídos para satisfazer uma necessidade individual, não com o intuito de construir algo. “Depois de esgotada a necessidade, o relacionamento acaba”, completa.
Mas dá para evitar o divórcio repensando seu comportamento. “Quando os dois realmente querem ter uma relação madura, precisam ter consciência de que terão que abrir mão de algumas necessidades individuais em favor do casal”, diz ela.
Mas não pense que não haverá problemas. Os conflitos sempre vão rodear os casamentos, lembra Ernesto. “A falta de dinheiro atrapalha, pois gera outros problemas. A chegada dos filhos, pois a mulher desvia o olhar do marido... É assim que funciona”. Mas se a relação chegar ao fim, é momento de refletir, aconselha Elizandra.
“Comumente, apontamos os erros dos ex-companheiros na tentativa de nos desculparmos dos nossos. As responsabilidades são de ambos. Ao reconhecer os erros, temos a oportunidade de analisar nossos limites, nossas vontades, nossos medos, nossos impulsos. E daí partir para outro relacionamento com mais clareza”, encerra a psicanalista.
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